2 de abril de 2008

Banco de informações de pais para pais

Criado em 2005, o projecto ganha agora nova forma com um portal e um Centro de Apoio. O objectivo é orientar famílias cujo destino lhes tenha colocado nas mãos crianças com deficiências.


Ter um filho com necessidades especiais vem muitas vezes alterar as rotinas da vida dos pais e são muitas as questões que surgem. Quais são os infantários adequados? Que escola escolher? A que apoios têm direito? Que terapeutas procurar? Como será o futuro e a integração destas crianças? As dúvidas por que passam milhares de famílias com necessidades especiais, em Portugal, são imensas mas as respostas, os apoios e as entidades adequadas a cada caso não são fáceis de encontrar.

Foi face a este cenário de “dispersão de recursos” que nasceu, em 2005, por iniciativa de um grupo de pais de crianças com necessidades especiais, o BIPP – Banco de Informação de Pais para Pais. Esta Associação de famílias para famílias, constituída como IPSS, surge assim da necessidade de racionalizar a utilização dos meios e serviços que o Estado e a Sociedade disponibilizam.

Com o objectivo de integrar adequadamente na sociedade crianças que, actualmente, não encontram o seu espaço, apoiar e orientar pais e famílias de crianças ou adultos com necessidades especiais que decorrem de incapacidades e limitações funcionais, cognitivas e comportamentais, que de forma continuada e persistente se reflectem ao longo da sua vida escolar, familiar e comunitária, o BIPP começou desde o primeiro momento a dar respostas via email ou por telefone a quem os procurava.

Mas era preciso mais. “As pessoas não encontram respostas e a criação de um espaço para saber aquilo a que têm ou não têm direito é uma necessidade urgente”, salienta Joana Santiago, da direcção do BIPP. Por isso mesmo para este ano, a par de um portal que permitirá às famílias serem orientadas e informarem-se, partilhando e trocando também autonomamente informações, está prevista a abertura de uma espécie de “loja do cidadão com deficiência”, como lhe chama Joana Santiago. Na prática, será um Centro de Atendimento personalizado com técnicos especializados para receberem, orientarem e encaminharem as famílias na busca das soluções e das respostas mais eficientes para cada problema. Sem querer referir uma data para a abertura do centro - até porque ainda estão a escolher a zona entre Lisboa, Oeiras e Cascais -, Joana Santiago adianta que o espaço deverá abrir “em meados deste ano”.

Para já estão a formar a equipa que em breve trabalhará como mediadora e orientadora das famílias. São estes técnicos que irão orientar, encaminhar e acompanhar contínua e personalizadamente as famílias que se dirigirem ao BIPP. Mas o apoio previsto não se cinge aos técnicos. A associação pretende criar um Grupo de Pais que terá como objectivo partilhar experiências entre famílias e promover a entreajuda, permitindo assim que, em conjunto, todos cresçam como educadores de crianças com necessidades especiais.

Na sua missão de informar e orientar, o BIPP disponibilizará ainda aos seus utentes um Gabinete da Saúde com técnicos especializados que indicarão os serviços médicos mais úteis a cada caso; um Gabinete da Educação com toda a informação sobre os recursos pedagógicos existentes e responsável por orientar as famílias na selecção dos serviços e apoios pedagógicos; um Gabinete de Apoios e Benefícios; um Gabinete Jurídico, proporcionando aconselhamento e divulgação da legislação referente às questões relacionadas com crianças com necessidades especiais e um Gabinete de Integração e Actividades de Trabalho que visa a organização e promoção de iniciativas de apoio à integração das pessoas com necessidades especiais na idade adulta, fornecendo apoio para garantir a continuidade de cuidados de qualidade ao longo da vida.

Dirigido a pessoas com deficiência, instituições de saúde, instituições de educação e associações de patologias específicas, o BIPP pretende ainda promover a figura do Provedor da Criança, uma entidade independente que terá como função principal a defesa e promoção dos direitos e interesses legítimos das crianças com necessidades especiais.

Mais informações: http://www.bipp.pt/


24 de março de 2008

Matemática desde pequenino

Durante dois dias professores de Matemática dos primeiros anos vão estar reunidos para encontrar mais e melhores caminhos para a aprendizagem dos alunos.


Mais do que um momento de encontro entre professores, educadores e outros profissionais ligados à aprendizagem da Matemática o Encontro Nacional de Professores “A Matemática nos primeiros anos” – que se realiza dia 28 e 29 na Escola Superior de Educação de Portalegre – é um espaço de reflexão e de partilha de experiências, onde se trocam conhecimentos e saberes directamente relacionados com o ensino e a aprendizagem da Matemática nos primeiros anos.

E os primeiros anos de aprendizagem da Matemática, ou de outras áreas do saber, são fundamentais. “Faz parte das aprendizagens básicas da matemática o desenvolvimento da capacidade de resolução de problemas. Este aspecto é específico da matemática. Mas esta capacidade liga-se a outras capacidades e atitudes, como o gosto por se dedicar a uma actividade, a persistência em levá-la até ao fim, o interesse em discutir com os seus pares os processos usados e a argumentação das soluções encontradas. Nesta perspectiva, são aprendizagens mais amplas que estão em jogo, já não específicas da matemática, mas para as quais a matemática dá contributos muito importantes”, explica Helena Maria Amaral, organizadora do encontro e professora do 1º ciclo do ensino básico na EB1 Parque Silva Porto, em Lisboa.

A docente defende que os primeiros anos podem comprometer futuras aprendizagens das crianças e futuras oportunidades de acesso a formações onde a matemática é uma componente fundamental, por isso o ensino deve começar logo no pré-escolar. “O mundo do dia a dia da criança está cheio de matemática e por isso é fácil explorar com ela situações e aspectos matemáticos”, refere a Helena Maria Amaral. Além disso, salienta que há um carácter mágico e desafiante nos números e nos raciocínios matemáticos que, “se forem bem explorados, podem ajudar a desenvolver desde muito cedo as capacidades da criança”.

E esta aprendizagem desde os primeiros anos tem nos brinquedos e artefactos com que as crianças hoje são confrontadas verdadeiros aliados já que estes “exigem cada vez mais o domínio de linguagem e estratégias que de alguma forma exigem conhecimento matemático”, argumenta. Orientar a criança no conhecimento do mundo que a rodeia, permitir e incentivar a interacção com materiais e jogos, bem como estimular formas de trabalho e de registo das actividades da sala de jardim de infância constituem também, para a docente, formas muito significativas de aprendizagem da Matemática.

A ideia de que todos podem e devem aprender matemática de forma significativa e de que isso é possível ainda não faz parte do senso comum mas para Helena Maria Amaral isso é fundamental. “É comum ouvir-se dizer «eu não tenho jeito para a matemática, já o meu pai era assim», mas não há crianças sem jeito para a matemática. Existem algumas com um jeito especial, que aprendem matemática independentemente das vivências de ensino que tenham e são muitas vezes estas que ensombram as outras fazendo-nos pensar que umas têm [jeito] e outras não”, justifica a docente. Além disso, defende, “o conhecimento matemático é universal e próprio da natureza humana, por isso ele pode ser acessível a todas as crianças”.

Preferindo falar em orientações em vez de “truques” Helena Maria Amaral adianta que se nos primeiros anos for praticado um ensino da matemática com uma forte componente concreta, em que as situações tenham significado para as crianças e que sejam desafiantes para elas, todos gostarão de aprender matemática.

Mas ainda há muito desafios no ensino e na aprendizagem da matemática. O mais premente, para a docente e organizadora deste encontro, parece ser o do acesso à tecnologia como ferramenta essencial para o ensino, a aprendizagem e o fazer matemática. “A tecnologia utilizada para estimular a compreensão e intuição matemática, proporcionando imagens visuais de ideias matemáticas, facilitando a organização e análise de dados, servindo de apoio a investigações levadas a cabo pelos alunos tem ainda um longo caminho a percorrer nas escolas onde trabalhamos e os nossos alunos aprendem”, refere.

Organizado pela Associação de Professores de Matemática este é já o 11º Encontro dedicado à Matemática no primeiros anos. Este ano, além das preocupações relacionadas com a profissionalidade e intervenção comunitária, o Novo Programa de Matemática do Ensino Básico e os programas de formação a decorrer no 1º Ciclo, são as questões relacionadas com a aprendizagem da Geometria e a visualização, a comunicação matemática, a aquisição do sentido de número e a iniciação ao cálculo, os processos matemáticos usados pelos alunos, a sua optimização na resolução de problemas e a transversalidade dos saberes e das aquisições que dão forma e conteúdo a dois dias de trabalho onde se vai procurar encontrar mais e melhores caminhos para uma aprendizagem significativa dos alunos.


15 de fevereiro de 2008

Uma escola diferente

As “Charter School” têm-se espalhado por vários Estados dos EUA. A chave para o sucesso está na autonomia dos professores, na liberdade dos pais e na avaliação externa.

A ideia das Charter Schools surgiu em 1992 e desde então acabou por se espalhar com sucesso pelos Estados Unidos. Actualmente são já perto de 4000 escolas com um total de cerca de 1 milhão de alunos. "Combina o melhor das escolas privadas e o melhor das escolas públicas", defende Charles Glenn, professor de política e administração educacional da Universidade de Boston, e orador na Conferência Autonomia da Escola: A Experiência das Charter Schools na América, organizada pelo Fórum para a Liberdade de Educação, e realizada hoje na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

Com a particularidade de integrar autonomia por parte dos professores, a liberdade de escolha do estabelecimento de ensino que os pais querem para os seus filhos e uma certa fiscalização exterior as Charter Schools são escolas publicas semi-autónomas que funcionam de acordo com um contrato estabelecido com o Estado. Este contrato é uma carta de princípios que define como é que tudo vai funcionar, quais são os objectivos e como será medido o padrão de sucesso.

Livres da burocracia, “que é muitas vezes um empecilho”, salienta Charles Glenn, grupos de professores e de pais, grupos comunitários ou organizações privadas podem assim propor uma Escola cuja abertura será avaliada e decidida pelo Estado. Depois, já em funcionamento, têm de provar constantemente que estão a atingir os objectivos propostos no contrato e que os alunos atingiram as capacidades educativas exigidas.

Financiadas pelo Estado, os valores variam de caso para caso. Cada Escola gere o seu próprio orçamento. Decidem quanto pagam aos professores e aos funcionários mas não podem escolher os seus alunos. Os pais não pagam nada e no caso de o número de candidatos ser maior do que as vagas existentes os alunos são escolhidos aleatoriamente. Anualmente enviam um relatório financeiro e de desempenho e se a Escola não atingir os objectivos o Estado pode reduzir o financiamento ou mesmo encerrar as portas do estabelecimento. Ambas as situações já ocorreram. “São mais livres que as escolas privadas mas têm a responsabilidade de apresentar resultados perante autoridades publicas”, sublinha Charles Glenn.

Para Charles Glenn a popularidade das Charter Schools justifica-se por responderem a dois problemas fundamentais. Por um lado, contribuem para uma maior preocupação com a qualidade educativa e melhoram o estatuto profissional dos professores. Por outro, promovem a justiça e igualdade de oportunidades para crianças de diferentes etnias, e independentemente das suas capacidades financeiras, quebrando assim a relação entre a localização das escolas e o sistema educativo que proporcionam.

A base para que tudo isto funcione em pleno reside em três palavras chave: autonomia, liberdade e responsabilização. “Tem de haver um equilíbrio adequado entre elas”, salienta o especialista. E é esse o grande desafio. Com 7 filhos, defende que a liberdade de escolha é fundamental. “Os pais devem poder escolher uma escola de confiança para os filhos”. Além disso, questiona, se é notório que todos estão interessados num melhor sistema educativo e “se os pais têm direito de voto porque é que não podem decidir qual é a melhor escola para os filhos?”.

Em relação a Portugal, o professor da Universidade de Boston acredita que o modelo das "Charter Schools" poderá ajudar a dinamizar a educação portuguesa, mas ressalva que seria "a última pessoa a sugerir que cada escola em Portugal se tornasse uma Charter School". De acordo com Charles Glenn, Portugal deve "abrir as portas a novos modelos, para que gradualmente se possam instalar, até se mostrarem eficientes".

Entre as vantagens referidas pelos defensores das Charter Schools estão as diferentes opções que estes estabelecimentos oferecem a pais e estudantes; a competição que nasce entre escolas e que leva a que melhorem com o objectivo de manter e atrair mais alunos; a possibilidade de funcionarem como laboratórios de novas experiências educativas e de aprendizagem e uma maior responsabilização, já que correm o risco de fechar se os objectivos não forem cumpridos.

Mas as Charter School não são consensuais. Mesmo nos Estados Unidos há quem veja nestes estabelecimentos vários problemas. Entre as criticas apontadas está o facto de funcionarem como uma instituição de ensino mas ao mesmo tempo como um negócio, estando assim sujeitas às forças de mercado. Por outro lado há também quem defenda que estas escolas são elitistas e contribuem para a segregação.

Roberto Carneiro, antigo ministro da educação rejeita esta critica. Defensor das Charter Schools e do principio da escolha dos pais, não tem dúvidas de que a liberdade é fundamental mas salienta que ainda há muito por cumprir nessa área no que diz respeito à situação portuguesa.

Talvez por isso os intervenientes na conferência não falem de Charter Schools em Portugal. Numa tentativa de aproximação ao caso português David Justino, ex-ministro da Educação, aponta as escolas com Contratos de Associação como “as nossas Charter Schools” mas, sublinha, “sem a responsabilização e a autonomia” das originais.

Para David Justino liberdade, autonomia e responsabilidade das escolas devem ser vistos como "pilares da educação moderna". Por isso mesmo, argumenta, perante um estado que “se assumiu como o principal fornecedor e doutrinador na educação” é preciso perceber até que ponto é que este modelo é compatível com aquilo que se entende como liberdade escolar.

Sem querer comentar as actuais reformas, o ex-ministro defende que será a partir da combinação e equilíbrio entre liberdade, autonomia e responsabilização que poderão sair as soluções para reformas educativas bem sucedidas. "Temos que pensar para daqui a 20, 30 anos, este é que é o grande desafio", conclui.

11 de janeiro de 2008

Ano Internacional da Astronomia em 2009

Proclamado pela ONU, a iniciativa pretende estimular o interesse geral, em especial dos mais novos, pela Astronomia e pela Ciência sob o lema “Descobre o teu Universo”.


400 anos depois das primeiras observações astronómicas feitas por Galileu Galilei, e da consequente revolução científica que veio alterar profundamente a visão que se tinha do Universo, 2009 será o Ano Internacional da Astronomia (AIA2009). Uma iniciativa que segundo a Presidente da União Astronómica Internacional (UAI), Catherine Cesarsky, “permite a todas as nações do Mundo uma oportunidade de participar nesta extraordinária revolução científica e tecnológica”.

Destinado, antes de mais, a todos os cidadãos do Mundo, o AIA2009 pretende transmitir o entusiasmo pela descoberta pessoal, o prazer de partilhar conhecimento sobre o Universo e o lugar de cada um de nós e a importância da cultura científica. Entre os objectivos gerais da iniciativa destaca-se a promoção da cultura científica e do acesso a novos conhecimentos; o desenvolvimento de comunidades astronómicas em países em vias de desenvolvimento; o apoio e desenvolvimento da educação formal e não formal das ciências e a transmissão de uma imagem mais moderna da ciência.

Os resultados e descobertas da Astronomia têm sido permanentes fontes de inspiração para todas as nações. Assim, presentemente, 99 países e 14 organizações estão já envolvidas na organização do AIA2009, uma rede de comunicação e ensino em Astronomia sem precedentes no passado e que estabelece um estreito contacto e ligação entre as comunidades astronómicas profissionais e amadoras e entre estas e o público em geral. Alguns países formaram já comités nacionais para preparar as actividades para 2009.

Por cá a Astronomia tem ocupado um lugar de destaque na divulgação da Ciência junto das escolas do ensino básico e secundário e público em geral e tanto os observatórios astronómicos como os centros de investigação em Astronomia e Astrofísica têm, de um modo geral, programas de contacto com o público. Além disso, são muitos os grupos de astrónomos amadores que asseguram, igualmente, uma presença de actividades de observação astronómica a nível nacional. O sucesso de programas como a Astronomia no Verão (organizado pelo Ciência Viva), são também um bom exemplo do interesse que a astronomia tem despertado entre a população. O AIA2009 surge assim como uma oportunidade para consolidar esta actividade.

A Sociedade Portuguesa de Astronomia é a entidade promotora da celebração do AIA2009 e segundo o astrónomo João Fernandes, coordenador da comissão de organização e ponto de contacto da União Astronómica Internacional para o AIA2009 em Portugal, a iniciativa terá como alvo o grande público e, em particular, os mais jovens. O objectivo é ajudá-los a redescobrir o seu lugar no Universo através da observação astronómica diurna e nocturna e estimular o interesse pela Astronomia e pela Ciência sob o lema “Descobre o teu Universo”.

Para isso estão a ser delineadas diversas actividades que decorrerão a nível regional e nacional e serão levadas a cabo pelas mais diversas instituições desde observatórios astronómicos, centros de investigação, planetários, museus, grupos de astrónomos amadores, sociedades científicas, escolas, entre outras.

Entre as propostas divulgadas numa versão preliminar do plano de actividades para o AIA2009 em Portugal, e porque é dada também uma particular atenção aos mais jovens são várias as propostas de actividades destinadas às escolas, professores e alunos. “E agora eu sou Galileu”, um programa a nível nacional com o intuito de recriar as observações de Galileu e pondo em destaque a sua importância para o nosso conhecimento sobre o Universo, é uma das propostas. Aqui, tal como “novos galileus” alunos do ensino básico e secundário teriam oportunidade de observar as fases de Vénus, as crateras da Lua, os satélites de Júpiter e as manchas solares. A pensar no próximo ano lectivo surgem também dois concursos, um que relaciona astronomia e arte e outro que se centra na observação astronómica.

Com o objectivo de apoiar os docentes do ensino básico e secundário em actividades de Astronomia nas escolas, entre as actividades propostas pela organização do AIA2009 está também a realização de um workshop sobre Astronomia nas Escolas. A ideia é sensibilizar, apoiar, informar, formar e preparar os docentes para as actividades que podem levar a cabo nas suas escolas, com particular destaque para a utilização do telescópio na observação diurna e nocturna.

Entre as propostas gerais encontra-se ainda a Noite de Astronomia onde as capitais de distrito serão convidadas a desligar por um curto período de tempo a iluminação pública permitindo realizar observações astronómicas em plena cidade. Não faltam também palestras proferidas por especialistas portugueses, sessões planetárias e uma exposição itinerante sobre o passado, o presente e o futuro da Astronomia dando a conhecer quem são, quem foram, o que fizeram e o que fazem os astrónomos portugueses. Com estas diversas actividades a organização espera que a população em geral possa entender o impacto da Astronomia e das ciências fundamentais no seu dia-a-dia e, assim, compreender melhor como é que o conhecimento científico pode contribuir para uma sociedade mais justa e pacífica.

Mais informações:
www.astronomia2009.org
www.astronomy2009.org

3 de dezembro de 2007

Escola na Gafanha da Nazaré produz energia alternativa

O objectivo é mostrar que é possível rentabilizar os recursos energéticos existentes na zona de Aveiro. Seis painéis solares e um aerogerador contribuem para a redução de custos da escola.


O projecto «Energias Renováveis em Acção», implantado em Junho na Escola Secundária com 3º Ciclo do Ensino Básico da Gafanha da Nazaré, procura rentabilizar os recursos energéticos existentes na zona e sensibilizar os alunos para as questões energéticas. A ideia é utilizar as energias renováveis, como a energia solar e eólica, para a produção de energia eléctrica que é depois utilizada ao nível na rede eléctrica do estabelecimento de ensino.
O projecto, inserido na missão pedagógica e de formação do "saber ser" e "saber estar" da escola, é pioneiro. Incute e sensibiliza os alunos, e a comunidade em geral, para a importância do aproveitamento e utilização das energias renováveis, aspectos que assumem cada vez mais relevância na nossa sociedade, dada a sua dependência em termos energéticos.

De inicio, a equipa constituída por professores, fez essencialmente pesquisa e estavam longe de imaginar onde iriam chegar. O projecto, coordenado pelo professor Sérgio Magueta, recebeu o aval da Câmara de Ílhavo, no âmbito do Programa de Apoio a Projectos Educativos, e o apoio das empresas MIDE e Porto de Aveiro. O investimento rondou nove mil euros, tendo sido apoiado em 60% pela Câmara.

Neste momento, encontram-se a funcionar seis painéis solares um aerogerador que perfazem, no total, 1100 watts de potência, o que permitiria, por exemplo, manter 100 lâmpadas económicas em funcionamento. Em relação à energia solar a potência começa de manhã e vai crescendo ao longo do dia para depois diminuir. Em quatro meses já atingiram perto de 400 quilowatts e em termos de energia eólica 30 quilowatts. “Este ano temos tido pouco vento”, justifica Sérgio Magueta. Ainda assim, no seu conjunto, está é uma produção “mensurável”, conclui.
Para além dos benefícios inerentes à aplicação deste modelo energético, Sérgio Magueta destaca a importância do projecto para a sensibilização dos alunos e de toda a comunidade de uma forma geral para a emergência do aproveitamento e utilização de energias limpas e renováveis. Hoje, o projecto já implementado sensibiliza alunos, é alvo de elogios por parte de outras escolas que também querem seguir o exemplo, e recebe visitas de estudo de alunos de outras escolas.

Um computador consome, em média, 200 watts por hora. E 12 computadores, a trabalhar oito horas por dia, consomem quase 20 quilowatts. A escola paga, mensalmente, cerca de 60 euros para garantir a energia eléctrica de uma sala de informática com 12 computadores ligados. Com estas novas alternativas a escola, que tem encargos mensais de três mil euros com electricidade, poderá poupar cerca de 750 euros por ano na factura da EDP. A isto junta-se os ganhos ambientais, traduzidos numa redução de quase 40 toneladas de dióxido de carbono emitido para a atmosfera.

Perante todos estes benefícios o próximo passo será lançar uma nova fase de desenvolvimento do sistema para aumentar a capacidade de produção. Para isso, pretendem implementar painéis de seguimento solar que funcionam segundo o princípio do girassol, estando sempre virados a 90 graus em relação ao sol. Esta condição permitirá aproveitar ao máximo a energia solar e aumentar a capacidade energética da escola com ganhos de 30% a 40% face aos actuais painéis fixos.


15 de novembro de 2007

Aprender e partilhar

Curso de formação da Associação para o Planeamento da Família pretende capacitar professores para o desenho e dinamização de projectos na área da Educação para a Saúde.

Destinado a professores coordenadores do Programa de educação para a saúde e outros professores e profissionais envolvidos ou interessados na promoção da saúde em Meio escolar, o curso de formação Desenho de Projectos em educação para a Saúde, promovido pela Associação para o Planeamento familiar (APF) tem como objectivo “ajudar a estruturar projectos que pensem de forma global as questões da saúde e não só em aspectos específicos”, explica Sónia Duarte Lopes, coordenadora da Delegação de Lisboa da APF.

Paula Sousa professora de Português e Francês na Escola Secundária Alfredo Reis Silveira, no Seixal, está ligada desde há 5 anos ao projecto de educação sexual que existe na escola. Actual coordenadora do projecto Educação para a Saúde e uma das formandas, afirma que esta área sempre foi valorizada na sua escola e garante que a Educação para a Saúde “tem cada vez mais importância”. Por isso mesmo, sublinha, “todas as áreas de projecto trabalham obrigatoriamente temas na área de Educação para a Saúde”. São três as áreas prioritárias escolhidas: educação sexual, alimentação e prevenção de consumos. Os trabalhos são desenvolvidos com o Centro de Saúde da área e em parcerias com a Câmara Municipal do Seixal e inúmeras instituições como o Instituto Português de Cardiologia, a Abraço, a Associação de Luta Contra a Sida e a APF. A vinda para esta formação tem uma explicação: “procurar ideias para desenvolver outras actividades e partilhar experiências”.

E esta partilha é uma constante. Entre as formandas - professoras, assistentes sociais, psicólogas - contam-se histórias, partilham-se projectos e conhecimentos, esclarecem-se dúvidas. Aprende-se. Por aqui descobre-se quando se deve ou não usar o medo na educação para a saúde, que a proximidade geográfica dos problemas garante uma maior atenção, que o humor é uma ferramenta importante para tirar o “ar soturno e chato” que muitas vezes se tem quando se fala em saúde e descobrem-se ideias e ferramentas para bordar os diferentes assuntos nesta área. Um exemplo é a apresentação de um conjunto de fotografias, ou parte delas, que reflectem a degradação de um toxicodependente e, a partir daí, pedir aos alunos para contarem a história daquela pessoa ou escreverem o que poderiam fazer para evitar aquela situação. Cartões com pequenas histórias e questões que nos conduzem num jogo onde a reflexão do grupo sobre as decisões a tomar são mais importantes que o resultado final são outra hipótese que os professores podem adaptar para abordarem temas como o álcool, a alimentação, a droga ou o sexo. O importante, percebe-se na formação, é descobrir como comunicar estes assuntos de forma mais atractiva para transmitir informação e captar a atenção dos alunos sem que estes achem que “é uma seca”.

Sobre os projectos na Educação para a Saúde António Manuel Marques, especialista na área e um dos monitores nesta formação, esclarece que é importante manter a coerência e que os temas se devem interligar entre si . Apesar de existir uma pressão institucional para serem apresentadas muitos resultados o monitor garante que é preferível três ou quatro projectos bem feitos. Em relação aos resultados António Manuel Marques deixa, contudo, um alerta. “É natural não haver frutos imediatos. É difícil mudar comportamentos”.

Mas esta não é a única dificuldade. Apesar da “vontade e carolice dos professores que fazem com que as coisas vão funcionando”, Paula Sousa reconhece que é complicado trabalhar porque os cortes orçamentais se reflectem em menos recursos e menos meios. Exemplo disso é o gabinete de atendimento a adolescentes que existe na escola e que era muito procurado pelos alunos mas que neste momento “está parado porque não há recursos para pôr o gabinete a funcionar”. Para colmatar esta falha, escola e professores procuram criar algumas acções para os alunos receberem informação e esclarecerem dúvidas e, ao mesmo tempo, encaminham-nos para o Centro de Saúde onde há uma consulta semanal para adolescentes. “Mas eles não vão lá por vergonha ou porque tem medo de encontrar alguém que os conhece”, desabafa a docente.

A participação e interacção com os pais também é importante mas não é fácil. Por isso mesmo, numa tentativa de estimular o diálogo com os pais e transmitir conhecimentos na área da saúde a Escola Secundária Alfredo Reis Silveira já criou uma estratégia. Em cada tema que tratam os alunos levam agora algumas questões a que os pais têm de responder e, estimulados pelos filhos, lêem os folhetos, fazem pesquisa, procuram informação e dialogam.

Por tudo isto, Paula Sousa nem hesita em afirmar que “falta fazer muitas coisas nesta área”. São precisos mais recursos humanos e físicos. “Há escolas que lutam com falta de espaço para poderem formar um gabinete para poderem receber os alunos”, argumenta. Além disso, diz, são precisos técnicos. “O Ministério tem de perceber que é preciso que as escolas tenham recursos. A maior parte dos professores não tem formação nesta área. Não somos técnicos”, argumenta.

Entre as formandas a opinião parece ser unânime. “Um espaço de atendimento para jovens é importante para acompanhar e encaminhar os adolescentes”. Eles procuram conselhos e é necessário haver alguém disponível para os ouvir, capaz de dar informação relacionada com o problema e encaminhá-los para o Centro de Saúde, para especialistas ou associações. “O atendimento é importante e complexo. Para os professores no atendimento é importante ter alguém na retaguarda que dê apoio e com quem possam esclarecer dúvidas e encaminhar os alunos”, conclui o monitor.

Depois de passar pelas delegações do Algarve e do Alentejo esta formação está agora em Lisboa e até Dezembro passará ainda por São Mamede de Infesta e Coimbra. A APF é uma organização não governamental, com o estatuto de Instituição Particular de Solidariedade Social, criada em 1967, tem desenvolvido desde 1984 uma actividade alargada de apoio às escolas e professores proporcionando-lhes competências para que possam desenvolver junto dos alunos, um trabalho estruturado e continuo de Educação Sexual nas escolas.

Mais informações:
www.apf.pt

4 de outubro de 2007

Ser professor

Na véspera do dia mundial do professor apresentamos a opinião de docentes em diferentes situações. Do estágio à reforma, passando pelo desemprego, descubra as suas histórias.


Têm diferentes idades e diferentes histórias de vida. Em comum a escolha de uma profissão. São professores. Nenhum se arrepende da escolha, mas reconhecem que há muitos problemas e dificuldades por resolver.

Os primeiros passos: “Era um sonho...”


Rita Martins, 25 anos, é professora estagiária na Escola Secundária com 3º Ciclo D. Dinis, em Coimbra. Dá aulas de Matemática B ao 11º ano. Diz que ainda é cedo para tirar conclusões sobre o estágio, mas garante que está a gostar. O facto de estar num núcleo de estágio onde lhe é permitido "viver" um pouco o papel de professor e participar activamente na vida escolar e em tudo o que lhe está inerente é sem dúvida um factor positivo. “Acho que o estágio nos moldes em que está actualmente é pobre e não nos prepara devidamente para um dia mais tarde virmos a dar aulas”, alerta. Quanto ao futuro não tem dúvidas: “Sei que dificilmente serei colocada nos próximos anos”.

Ainda a dar os primeiros passos, Rita não tem ilusões. “A carreira de professor é cada vez mais desvalorizada e os alunos, na sua maioria, estão cada vez menos interessados em aprender”. Além disso, salienta, há “uma perda de respeito dos alunos pelo professor.” Acha que o ensino é um "parente pobre" do nosso sistema político mas acredita que este cenário pode mudar. Como? “Com um maior apoio por parte do governo e com um maior empenho por parte dos professores. A par disto terá que haver uma mudança na forma como se olha para o professor e dar-lhe o devido valor enquanto profissional da educação”, conclui.

O desemprego: “Concorri de norte a sul do país”

“Estou a morar com os meus pais e são eles que continuam a suportar as minhas despesas”, desabafa Alexandra Silva, 25 anos, desempregada. Concorreu de norte a sul do país mas não conseguiu colocação. Tentou o ensino privado - entre 150 a 200 currículos enviados – mas também não teve sorte. Este é, aliás, um cenário comum a muitos dos seus colegas. “O panorama do desemprego dos recém-licenciados na área da educação é geral. Infelizmente, tenho colegas que terminaram o curso há já 2 ou 3 anos e continuam desempregados”, justifica.

Alexandra não cruzou os braços e começou a dar explicações de Matemática. “Estou um pouco a fazer aquilo que sempre quis - ensinar os que precisam - e continuo a manter-me sempre a par do que se passa”, explica. Quanto ao futuro, espera poder vir a dar aulas “quanto antes” e enfrentar aquele que para si é o maior desafio de qualquer professor: “fazer com que os seus alunos queiram estar na sala de aula, queiram aprender, fiquem motivados e ganhem ambição para o futuro”.

Dentro de 5-6 anos espera que haja uma revolução total do actual Sistema Educativo, e “que finalmente as coisas comecem a fazer sentido e se consiga fazer Educação em Portugal” porque, diz, aquilo que sente neste momento é bem diferente. “Sinto que em Portugal estamos a deseducar”, desabafa.

O inicio: “Não me vejo a fazer mais nada”

Sílvia tem 30 anos e é docente há sete. Há pouco mais de um ano criou um blog (
http://aprofessorinha.blogspot.com) onde desabafa e se identifica como a professorinha. Não quer dar a cara ou identificar a escola onde lecciona. E explica porquê: “Muitas vezes o anonimato é a única coisa que me leva a desabafar metade do que desabafo no meu blog. Se se soubesse onde lecciono, de certeza não revelaria tanto”.

Já esteve desempregada várias vezes, uma das quais durante um ano lectivo inteiro, e actualmente dá aulas ao 7º e 8º ano. Saber que poderia ter alguma influência no futuro dos alunos atraiu-a e garante que dentro da sala de aula se sente “como peixe na água”. Ainda assim, face à situação dos professores hoje em dia, afirma que se está “num beco sem saída”. “A Ministra encurralou-nos de tal forma que a única coisa que podemos fazer é aceitar as medidas insultuosas que ela nos impõe sob pena de ver a opinião pública ainda mais contra nós do que já está”, explica.

O balanço que faz da educação em Portugal também não é o melhor. “Estamos a formar os analfabetos técnicos que amanhã vão formar a nossa sociedade. E todas as medidas que estão a ser implantadas só estão a contribuir para agravar a situação. Há pessoas a mexer na educação que nunca tiveram contacto com professores ou com alunos e isso é um erro colossal!”, alerta.

Com deslocações diárias de hora e meia, demasiado trabalho para fazer em casa e muitas saídas da escola às 20h00 devido a reuniões, Sílvia confessa que anda cansada. Mas segue em frente e não pára. “Inscrevi-me num mestrado em Administração Escolar. Tenho o sonho de poder pertencer ao um Conselho Executivo para tentar mudar alguma coisa...”, confessa.

30 anos depois: “É cada vez mais exigente”

Professora de matemática na Escola secundária com 3º ciclo D. Dinis, em Coimbra, e uma das docentes distinguidas com o prémio Pitágoras, Rosa Canelas, 55 anos, garante gostar do que faz e nunca se ter arrependido da sua escolha. Já lá vão 33 anos. “Não penso parar antes de a cabeça me atraiçoar. Não desisto de tentar que os meus alunos tenham um futuro melhor”, explica.

O facto de haver alunos que não querem aprender é, no seu entender, o maior problema para os professores. Mas não é o único. “A maneira como a sociedade despreza o conhecimento e o baixo nível de escolarização dos cidadãos, muitos deles pais dos nossos alunos, dificulta muito o trabalho dos professores”, afirma. A isto junta-se uma “sociedade que parece querer mostrar aos jovens que sem estudar se pode atingir quase tudo” e a “falta de interesse de muitos pais pela vida escolar dos filhos”.

Face a tudo isto reconhece que “ser professor é cada vez mais exigente”, sublinhando que neste campo não se pode falhar. “Qualquer falha pode ser o arruinar do futuro de um jovem”, justifica.

Opinião semelhante tem António Castelo Gama. “É muito difícil, sobretudo para os professores que se preocupam com as aprendizagens dos alunos e pretendem contribuir para que os seus alunos venham a ser no futuro cidadãos bem formados e responsáveis”, afirma o docente, já com 31 anos de carreira.

Lamenta que sejam poucas as famílias que cultivam nos seus jovens a ideia de que o verdadeiro sucesso se atinge com esforço e critica o discurso oficial. “Seria necessário que os responsáveis pela Educação “puxassem as orelhas” a quem não cumpre e incentivassem os alunos para o trabalho de qualidade, desenvolvendo a ideia de que só com trabalho e esforço pessoais se atingem as metas que nos fazem considerar pessoas realizadas”, conclui.

Nos últimos dois anos, nos períodos de maior cansaço, António confessa que já pensou algumas vezes na reforma mas só “na condição de poder continuar a colaborar no desenvolvimento de alguns projectos em que estou envolvido”, esclarece. Até porque, garante, “nunca me arrependi de ter iniciado este percurso”.

A reforma: “Não é uma profissão fácil”

Ana Caldeira decidiu reformar-se há dois anos por questões de saúde. A decisão não foi fácil. “Gosto muito de ensinar e tenho saudades das crianças. Para mim ensinar é brincar. Muitas vezes fui condenada por isso mas acho que tive êxito”, argumenta. Deu aulas no ensino primário, maioritariamente ao 4º ano, a turmas com bi e tri-repetições, com percursos alternativos. É notória a paixão com que fala do seu percurso e por isso mesmo confessa que está a tentar fazer algo na área do voluntariado.

Porque a actual situação dos professores não é fácil Ana, de 56 anos, recomenda aos que começam agora muita coragem, amor, calma e paciência. “É muito difícil. Tenho muita pena dos meus colegas. Há muitas exigências e regras, o número de crianças por turma é excessivo porque são mais instáveis e precisam de mais atenção, e as aulas já não lhes dizem nada”, justifica.

Para Maria do Rosário Soares, 58 anos, a decisão de passar à reforma foi fácil. Deu aulas ao 2º ciclo do Ensino Básico e ao Secundário. Geografia e Introdução ao Desenvolvimento Económico e Social. Só guarda boas memórias das aulas e da escola mas, cumprido o tempo necessário, não hesitou e veio para casa. Agora tem tempo. Passeia, lê, está com a família...

Para aqueles que ingressam agora na profissão não sabe que conselhos dar. Mas lá vai dizendo que esta “não é uma profissão fácil” e que para se ser professor é preciso ter gosto. “Não podem ver esta profissão com um remédio...”, explica. E depois, estando cá, é preciso “lutar e exigir condições”.