20 de março de 2007

Publicidade vai às escolas

Explicar o que é a publicidade e como funciona é o mote do programa “Media Smart”, um projecto de literacia em publicidade já testado com sucesso no Canadá e no Reino Unido e que poderá entrar nas escolas portuguesas já no próximo ano lectivo.


As crianças e os mais jovens são um público alvo cada vez mais importante para a publicidade e muitas vezes também mais vulnerável. Os anúncios crescem no intervalo dos seus programas televisivos preferidos e, por isso mesmo, é cada vez mais necessário que os mais novos percebam realmente o que é a publicidade, como funciona e que tenham capacidades para descodificar as mensagens publicitárias.

É com este objectivo, e para que no futuro os jovens de hoje sejam consumidores mais esclarecidos e informados, que surge o programa “Media Smart”, desenvolvido pela Associação Portuguesa de Anunciantes (APAN). “Mais do que retirar as crianças do mundo comercial onde vivem, é necessário dar –lhes ferramentas para que consigam compreender e descodificar esse mundo", afirma Manuela Botelho, secretária geral da APAN.

O programa é baseado no modelo britânico e um grupo de peritos - constituído por professores, pais, psicólogos, nutricionistas, educadores, anunciantes, associações de consumidores e consultores independentes - irá «avaliar o material de apoio existente, validar ou alterar os conteúdos, definir objectivos de aprendizagem», explica Manuela Botelho. A APAN espera também contar com a participação de representantes do Governo no grupo de especialistas, nomeadamente do Ministério a Educação. Para já a secretária-geral da APAN não revela nomes, esclarecendo que o grupo de peritos está em fase de constituição, mas adianta que serão cerca de 11 elementos e que a primeira reunião decorrerá ainda no final deste mês.

Preparado para o ensino extracurricular ou mesmo inserido em disciplinas curriculares já existentes, o programa vai implicar formação de professores e tem como grupo-alvo crianças entre os 6 e os 11 anos (1º e 2º ciclos). "O programa é muito flexível", realça Manuela Botelho, e aborda 3 grandes áreas – Introdução à publicidade, Publicidade dirigida às crianças e publicidade não comercial – cujo desenvolvimento e profundidade estarão dependentes da capacidade de cada escola.

Entre os possíveis temas a abordar vão estar, por exemplo, a importância do som na comunicação comercial, a utilização do exagero na publicidade ou a exibição de personalidades ou personagens nas campanhas. Segundo Manuela Botelho serão expostos «todos os aspectos mais difíceis da publicidade» com o objectivo de despertar o sentido critico dos jovens e de suscitar o debate nas escolas.

O ensino destes conceitos será apoiado, entre outros elementos, por fichas de trabalho, manuais para professores e filmes explicativos. Paralelamente será também criado um site com uma área especifica para crianças, professores e pais uma vez que estes últimos «tem também que participar nesta acção educativa», sublinha Manuela Botelho.

A APAN já teve por parte do Governo "uma manifestação de reconhecimento da grande utilidade que este programa pode ter em Portugal" e, a confirmar-se o arranque do programa já no próximo ano lectivo a associação prevê, nos primeiros 3 anos de aplicação do programa abranger cerca de 40% dos alunos portugueses entre os 6 e os 11 anos, podendo chegar ao universo global das escolas nacionais num prazo de 10 anos.

O projecto "Media Smart" arrancou em 1998 no Canadá e entrou na Europa, em 2002, pela mão do Reino Unido, onde já chegou a mais de um milhão de crianças. O projecto também já foi lançado na Holanda (2004), Bélgica e Alemanha (2005) e, mais recentemente, na Finlândia.

"Portugal é o primeiro país do sul da Europa a implementar este programa", realçou Manuela Botelho, salientando que o "Media Smart" é um projecto de responsabilidade social, patrocinado pelas agências e meios, mas sem quaisquer contrapartidas para as marcas. «A publicidade é tratada como tema e não para promover qualquer marca», sublinha.


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