Violência Escolar
Em cada dia de aulas registam-se, em média, duas agressões a professores nas escolas portuguesas. O Educare.pt apresenta-lhe dois desses exemplos e algumas sugestões, na primeira pessoa, para se evitar estas situações.
Na escola do primeiro ciclo das Cantarias, em Bragança tudo começou com um desentendimento entre crianças. Emília Silva, mãe de uma das crianças resolveu ir pedir explicações, esbofeteou o aluno que se envolveu com o filho e também o pai da criança e, dentro da própria escola, ainda bateu, insultou e ameaçou a professora que, sozinha, apresentou queixa à polícia.
A mãe da criança foi julgada e condenada em Junho de 2004 a cinco anos de prisão. A arguida recorreu, mas o Tribunal da Relação do Porto confirmou a sentença em Dezembro. Desde então a arguida andava fugida e acabou por ser detida há uma semana. Para a professora, vitima da agressão, chegam assim ao fim os receios diários de correr o risco de se cruzar com a agressora.
Sofia (nome fictício) continua a viver com esse receio. Prefere manter o anonimato com medo de represálias mas conta a sua história porque sente que tem o «dever de alertar os outros» e, explica, também é «uma forma de sentir que fazia justiça».
Foi há cerca de um ano mas a educadora de infância numa escola no distrito de Santarém, não se esquece. O episódio remonta a um dia de aulas, quando depois de repreender e dizer a uma criança para se sentar a pensar no facto de «ter batido inúmeras vezes aos colegas» e ter explicado à mãe as razões de assim o ter feito, a educadora foi alvo de uma discussão e de uma estalada na mão dada pelo pai da criança que não terá gostado da atitude da docente.
Reconhecendo que este não é um caso de «grande violência», contudo, Sofia jamais o esquecerá porque o contexto de discussão em que aconteceu, e a tensão e o medo que sentiu perturbaram-na psicologicamente, comprometendo o seu desempenho profissional durante algum tempo.
Segundo Sofia, não houve nenhuma atitude de apoio ou animo por parte da direcção da escola. «Senti-me desapoiada e insegura», recorda. No entanto, sublinha o apoio dos pais das crianças e de outras pessoas «que testemunharam o sucedido caso pretendesse apresentar queixa».
Mas a queixa nunca existiu. «Fiquei com receio que o indivíduo se quisesse vingar de mim ou das crianças e adultos da instituição e decidi não o fazer», justifica. Apesar de já ter quase um ano o medo continua porque, apesar de o pai ter retirado o aluno da instituição no dia da agressão, a educadora trabalha na mesma localidade onde vive o alegado agressor e está «sujeita a encontrá-lo e acontecer sabe-se lá o quê».
Sofia defende que «é urgente “criar” escolas para pais, dar-lhes formação», sublinhando que «geralmente os pais mais ausentes e negligentes são os mais exigentes nas escolas». A par destas medidas, a educadora defende que as escolas deviam ter seguranças e técnicos especializados que ajudassem a tratar esta problemática, a convivência entre os adultos nas escolas devia ser mais pacífica e a prevenção da violência com as crianças devia ser abordada em todos os níveis de ensino.
Mais recentemente, João (nome fictício) também foi vitima de agressão. Prefere manter o anonimato mas quer chamar a atenção sobre estes casos, de modo a que os professores tenham mais controlo sobre os alunos e que todos percebam que «os docentes estão lá para educar e não para agredir».
O episódio que terá levado à agressão na escola EB1 de Campinas, no final de Fevereiro, é, aparentemente, simples. Dois alunos que já estariam de castigo estavam a perturbar as aulas de João e a implicar com os outros alunos. João avisou-os mas, segundo o docente, um continuou a gozar e insultou-o. Para pôr cobro à situação João diz que correu na direcção do aluno, agarrou-o e pô-lo sentado ao lado dele. «O miúdo ficou assustado mas não aconteceu mais nada», garante.
À hora da saída, os miúdos voltaram com os avós que, à porta da escola, terão começado aos gritos e a perguntar quem é que tinha batido no neto. Para evitar mais confusão, e explicar o que aconteceu, João foi ter com o casal e, ao falar com a avó, foi agredido com um murro pelo avô. A agressão foi vista por crianças e pais que, segundo João, se mostraram contra este acto e deixaram claro que não querem coisas destas na escola. O professor garante que a sua única reacção foi afastar-se.
Nessa noite foi assistido no Hospital Pedro Hispano, com escoriações na face e com a prótese dentária solta, e no dia seguinte apresentou queixa. João espera agora que «a pessoa em causa seja punida, para que também sirva de exemplo».
João teve sempre o apoio da escola e da Junta de Freguesia. Não regressou de imediato às aulas, não tanto por receio «mas para salvaguardar a imagem da própria escola». Também não deverá voltar à mesma escola para evitar problemas, porque não sabe «qual será a abordagem dele e dos miúdos que assistiram a tudo».
Na opinião do professor «é necessário mentalizar os pais que os miúdos estão na escolas para aprender e que há regras». João garante que não agrediu o miúdo mas não sabe até que ponto é que se outro miúdo disser o mesmo não irá acontecer exactamente a mesma situação.
Sofia e João são apenas dois exemplos das duas agressões diárias que ocorrem, em média, em cada dia de aulas nas escolas portuguesas. Os dados mais recentes dão conta de 390 casos de agressão física a professores no passado ano lectivo.
Segundo a Linha – SOS PROFESSOR (808962006 – sosprofessor@anprofesores.pt), quatro em cada dez docentes que contactam este serviço, em funcionamento desde Setembro, admitem ter sido vítimas de agressões físicas na escolas ou nas imediações. De acordo com a Associação Nacional de Professores, que promove esta linha telefónica, os dados não são animadores. Em cinco meses receberam 128 contactos, dos quais 50 (39%) relatam situações de agressão física. Na maioria dos episódio relatados, a agressão partiu dos próprios alunos (37,2%) ou dos encarregados de educação (21%). O palco principal destes actos é, maioritariamente, o estabelecimento de ensino (83,7%) mas 34,1% dos casos ocorrem na própria sala de aula.
Alguns destes casos ganham notoriedade pública, mas muitos outros, por várias razões, são mantidos em silêncio. Todos eles, no entanto, deixam marcas profundas nas pessoas envolvidas e contribuem para a criação de climas de insegurança e ansiedade preocupantes.
16 de março de 2007
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário