5 de maio de 2000

CULTURA
Uma ida ao Teatro: Flautista encanta em Benfica

O Grupo de Teatro Papa-Léguas tem em cena no Auditório Carlos Paredes o seu mais recente espectáculo – “O Flautista de Hamelin”. O 1500-ESCSito foi até lá.

Quarta-feira, 17 de Maio. São 10.15 horas. Ainda não chegou ninguém, o auditório está fechado; ainda é cedo, a peça só começa às 11 horas. O auditório situa-se a meio da Avenida Gomes Pereira, colado à Junta de Freguesia de Benfica, e é um edifício amarelo. No espaço que separa a porta fechada do portão aberto para a rua encontram-se dois bancos de jardim e um pequeno quiosque verde.

Às 10.30 horas surgem os actores e a responsável pela recepção e bilheteira. Parecem calmos e tranquilos, dirigem-se para os bastidores e preparam-se para o teatro. Pouco tempo depois chegam as primeiras crianças. Vêm da Santa Casa da Misericórdia de Sintra, têm entre os três e cinco anos e quase todos (inclusive as educadoras) envergam batas verdes. Entram aos pares e de mãos dadas, dirigem-se à sala de espera, sentam-se no chão e comem bolachas. Olham-nos com um olhar curioso, tímido e desconfiado; quando percebem que estão a ser fotografados, mostram-se mais afáveis, sorriem e posam para o repórter.

De acordo com uma das educadoras procuram ir todos os anos ver pelo menos uma peça de Teatro: «Já conhecemos o trabalho dos Papa-Léguas e as crianças gostam muito, entretêm-se com o espectáculo e com os actores em si». Também costumam ir ao Teatro Infantil de Lisboa (TIL) mas lá «costumam fazer uma crítica à sociedade e por vezes a mensagem não lhes chega».

Já com alguns minutos de atraso, mas ainda sem a peça ter começado, chegou a camioneta que transportava as 80 crianças do Centro de Bem Estar da Zona Leste de Torres Novas, que contribuíram para mais uma lotação esgotada. Estas, entre os dois e os seis anos, mostram-se desejosas de entrar e gritam: «Te-a-tro! Te-a-tro!».

E eis que esta pequena multidão sempre agitada, transmitindo uma imagem compacta e colorida já se encontra na sala do teatro. As cadeiras que parecem demasiado grandes para eles vão sendo ocupadas e os mais pequenos ficam ao colo das educadoras. A minutos de a peça começar ouve-se ainda a voz de uma educadora: «Vai escurecer e vão aparecer umas pessoas ali em cima [apontando para o palco], mas não precisam de ter medo, está bem?», não é obtida qualquer resposta, no fim se verá.

Já assistiram a duas peças dos Papa-Léguas e, para Isabel, professora responsável pelo grupo, «estas idas ao Teatro são muito importantes. Fora da escola não têm muito contacto com o teatro e assim despertam para este tipo de situação, vão aprendendo a gostar, e têm a oportunidade de contactar com uma nova situação e continuar ou não a ir»

O espectáculo vai começar

Não há pancadinhas de Molière. A sala escurece, o pano sobe e o espectáculo começa. Durante 60 minutos entramos no mundo da fantasia encenado por Mário Jorge e interpretado por Alexandra Diogo, Luiz Carvalho, Margarida Borges, Nuno Machado, Pedro Cardoso e Sónia Jerónimo. Através deles viajamos para a margem do rio Veser, numa região rodeada de colinas, situada a sudoeste de Hanover, no norte da Alemanha. Foi daí que, segundo a lenda, um flautista levou 130 crianças, todas maiores de quatro anos. O facto terá ocorrido em 1284, quando estas seguiram o “apanhador de ratos” através de um portal mágico aberto no Monte Poppen...
Enraizada nas referências históricas do êxodo das crianças, esta lenda tem estimulado a imaginação de muita gente ao longo dos tempos, e já serviu de base a poemas de Goethe e Brecht, canções dos ABBA e de Jethro Tull e outras peças de teatro. Agora são os Papa-Léguas que se deixam encantar pela sua magia, e tentam contagiar o público com ela.

Mas para além da magia os Papa-Léguas aproveitam esta peça para fazer uma crítica social e política à sociedade, e se é certo que as crianças dificilmente a percebem, aos adultos esta não passa despercebida.
No final do espectáculo miúdos e graúdos parecem estar de acordo: a peça agradou-lhes e não tiveram medo. Os mais novos não conseguem encadear muito bem aquilo que aconteceu mas percebem o final da história.

Agora é tempo de regressar e mesmo a caminho de casa o espectáculo continua, pois, com refere a professora Isabel, de Torres Novas, «ao chegarem, os miúdos vão contar aos pais um ou outro pormenor que fixaram e que lhes disse mais». Para além disso todas as crianças que vieram ao teatro vão efectuar um pequeno trabalho ou actividade que permitirá saber até que ponto é que perceberam a História do Flautista de Hamelin. Por agora o teatro acaba mas a magia continua.

trabalho universitario