14 de maio de 2002

Férias: A Europa em Combóio

Todos os anos cerca de 2000 portugueses optam por fazer um inter-rail. Metem a mochila às costas e partem à descoberta. Espera-os um mês imprevisível em que quase tudo é possível. No final regressa-se com uma caixinha de memórias. Paulo e Inês fizeram um inter-rail em 1999, tiveram bons e maus momentos, e hoje estão desejosos de voltar a partir à aventura. Três anos depois fazem uma viagem no tempo e contam-nos a sua experiência.

O Inter-Rail nasceu em 1972 e foi criado como um bilhete de comboio que permitia aos jovens até aos 21 anos viajar livremente e a preços competitivos, em segunda classe, durante um mês, por 21 países europeus. Era uma forma inovadora, e mais barata, de conhecer a Europa.


Hoje o objectivo mantém-se mas está mais alargado. O cartão inter-rail passou a abarcar 29 países que estão agrupados em oito zonas distintas; em vez de um bilhete único existem quatro passes com diferentes destinos e durações; a idade máxima para os passes mais baratos passou a ser os 25 anos, mas quem for mais velho e quiser fazer esta viagem tem agora a oportunidade de o fazer (na modalidade Inter-Rail +26) a preços igualmente competitivos.

E são muitos aqueles que optam por comprar um bilhete e partir à aventura – 6,3 milhões de pessoas já fizeram um inter- rail e, em Portugal, cerca de 2000 jovens partem todos os anos. Mas o que é que é preciso para fazer esta viagem? Compra-se o cartão na CP ou em agências de viagem, consoante a zona que se quer visitar, prepara-se a mochila e é só apanhar o combóio. Paulo Silva, de 23 anos, e Inês Caeiros, um ano mais velha, resolveram fazer um inter-rail em Agosto de 1999. Porquê? «Queríamos viajar para mais do que um país e esta era a maneira mais barata».

Um mês à aventura na Europa

Começaram a pensar na viagem seis meses antes mas como afirmam «só um mês antes da partida é que começámos a decidir os destinos». Três anos depois, acham que o maior problema foi mesmo «organizar cá tudo». E explicam porquê: «Primeiro queríamos ir à Grécia e isso dificultou um bocado a nossa organização porque soubemos que os comboios eram muito lentos e de muito má qualidade e íamos perder muito tempo: tínhamos que ir até ao sul de Itália, depois apanhar o barco...era uma semana». Desistiram da Grécia mas não da viagem.


Antes de partir havia que preparar a mochila e não levar a casa às costas mas a Inês recorda-se que foi complicado: «Eu levei imensa roupa, eles telefonaram-me no próprio dia: “diz-me aí uma lista de coisas que aches que devemos levar: umas calças de ganga, três ou quatro t-shirs”. Eles acabaram por levar umas 10 t-shirts e eu umas 20».

Com o bilhete na mão é tempo de partir. De Lisboa foram para Marina Del Campo, Barcelona, Génova, Pizza, Nápoles, Salerno, Pompeia e Roma, depois saíram de Itália porque «já estávamos fartos», relembram. Seguiu-se Viena, Budapeste, Praga, Amsterdão, Bruxelas, Paris e novamente Amsterdão: «Já conhecíamos Paris e achámos que tínhamos de voltar a Amsterdão, então saímos de Paris num combóio às 6 da manhã e voltámos no dia seguinte à mesma hora». Praga foi o destino eleito pela Inês porque «a cidade é ultra romântica, está muito bem cuidada, jorra cultura por todos os lados, o clima é ameno e a cidade tem uma magia...»

Mas nem tudo é fácil. Quem faz um inter-rail tem de ter os olhos bem abertos e estar preparado para tudo. Em Budapeste, quando chegaram, tentaram enganá-los: «telefonámos para várias pousadas em Budapeste e numa disseram-me que nos iam lá buscar... quando chegámos estava muito mau tempo e um “gajo” queria-nos levar para um sítio qualquer e começámos a perceber que havia ali qualquer coisa que não estava bem. Dissemos que tínhamos ali o taxi e fugimos». Em Florença, apesar de já irem avisados, tentaram assaltá-los de uma forma muito particular: «os miúdos chegam com cartões a pedir, encostam esses cartões às malas, abrem-nas e tiram a carteira; enquanto tu estás a pensar se vais dar alguma coisa, ou não, já te levaram a carteira», recorda Inês.

O desejo de voltar a partir

No entanto, estes são episódios isolados que não superam os bons momentos que passaram, como por exemplo «dormir debaixo da Torre de Pizza». O alojamento é muitas vezes uma dificuldade em termos monetários para quem faz um inter-rail. Paulo e Inês superaram-no, dormindo em casas de amigos ou, excepcionalmente, na rua. A procura de sítio para dormir em Roma é hoje recordada com algum riso à mistura já que quando a Inês pediu um quarto para três pessoas a senhora perguntou-lhe, «com a maior das naturalidades», se queria «uma cama para três».

A alimentação também não foi um problema. «Comemos bem», adiantam. O melhor sítio para se comer são os países de Leste porque «come-se muito bem e é baratíssimo», e em Itália «comem-se os melhores gelados», dizem com ar deliciado.

Para quem quiser partir à aventura Inês sugere que escolham bem a companhia e que «conheçam mesmo bem as pessoas...o melhor é ir em número par, dois homens e duas mulheres é o ideal». Paulo aconselha levar um canivete suíço porque «dá imenso jeito» e o guia de pousadas da Europa.


No final, o balanço foi muito positivo e já têm vontade de voltar a fazer um inter-rail, mas nenhum deles quer «ir sozinho» até porque, como a Inês refere, em tom brincalhão: «eu força de braços tenho pouca e pôr a mochila lá em cima...». Desta vez o destino será a Europa do Norte, para conhecer novos países e culturas. Agora é só comprar o bilhete, pôr a mochila às costas e partir à aventura.

trabalho universitário

5 de maio de 2002


in Diário de Notícias