24 de março de 2008

Matemática desde pequenino

Durante dois dias professores de Matemática dos primeiros anos vão estar reunidos para encontrar mais e melhores caminhos para a aprendizagem dos alunos.


Mais do que um momento de encontro entre professores, educadores e outros profissionais ligados à aprendizagem da Matemática o Encontro Nacional de Professores “A Matemática nos primeiros anos” – que se realiza dia 28 e 29 na Escola Superior de Educação de Portalegre – é um espaço de reflexão e de partilha de experiências, onde se trocam conhecimentos e saberes directamente relacionados com o ensino e a aprendizagem da Matemática nos primeiros anos.

E os primeiros anos de aprendizagem da Matemática, ou de outras áreas do saber, são fundamentais. “Faz parte das aprendizagens básicas da matemática o desenvolvimento da capacidade de resolução de problemas. Este aspecto é específico da matemática. Mas esta capacidade liga-se a outras capacidades e atitudes, como o gosto por se dedicar a uma actividade, a persistência em levá-la até ao fim, o interesse em discutir com os seus pares os processos usados e a argumentação das soluções encontradas. Nesta perspectiva, são aprendizagens mais amplas que estão em jogo, já não específicas da matemática, mas para as quais a matemática dá contributos muito importantes”, explica Helena Maria Amaral, organizadora do encontro e professora do 1º ciclo do ensino básico na EB1 Parque Silva Porto, em Lisboa.

A docente defende que os primeiros anos podem comprometer futuras aprendizagens das crianças e futuras oportunidades de acesso a formações onde a matemática é uma componente fundamental, por isso o ensino deve começar logo no pré-escolar. “O mundo do dia a dia da criança está cheio de matemática e por isso é fácil explorar com ela situações e aspectos matemáticos”, refere a Helena Maria Amaral. Além disso, salienta que há um carácter mágico e desafiante nos números e nos raciocínios matemáticos que, “se forem bem explorados, podem ajudar a desenvolver desde muito cedo as capacidades da criança”.

E esta aprendizagem desde os primeiros anos tem nos brinquedos e artefactos com que as crianças hoje são confrontadas verdadeiros aliados já que estes “exigem cada vez mais o domínio de linguagem e estratégias que de alguma forma exigem conhecimento matemático”, argumenta. Orientar a criança no conhecimento do mundo que a rodeia, permitir e incentivar a interacção com materiais e jogos, bem como estimular formas de trabalho e de registo das actividades da sala de jardim de infância constituem também, para a docente, formas muito significativas de aprendizagem da Matemática.

A ideia de que todos podem e devem aprender matemática de forma significativa e de que isso é possível ainda não faz parte do senso comum mas para Helena Maria Amaral isso é fundamental. “É comum ouvir-se dizer «eu não tenho jeito para a matemática, já o meu pai era assim», mas não há crianças sem jeito para a matemática. Existem algumas com um jeito especial, que aprendem matemática independentemente das vivências de ensino que tenham e são muitas vezes estas que ensombram as outras fazendo-nos pensar que umas têm [jeito] e outras não”, justifica a docente. Além disso, defende, “o conhecimento matemático é universal e próprio da natureza humana, por isso ele pode ser acessível a todas as crianças”.

Preferindo falar em orientações em vez de “truques” Helena Maria Amaral adianta que se nos primeiros anos for praticado um ensino da matemática com uma forte componente concreta, em que as situações tenham significado para as crianças e que sejam desafiantes para elas, todos gostarão de aprender matemática.

Mas ainda há muito desafios no ensino e na aprendizagem da matemática. O mais premente, para a docente e organizadora deste encontro, parece ser o do acesso à tecnologia como ferramenta essencial para o ensino, a aprendizagem e o fazer matemática. “A tecnologia utilizada para estimular a compreensão e intuição matemática, proporcionando imagens visuais de ideias matemáticas, facilitando a organização e análise de dados, servindo de apoio a investigações levadas a cabo pelos alunos tem ainda um longo caminho a percorrer nas escolas onde trabalhamos e os nossos alunos aprendem”, refere.

Organizado pela Associação de Professores de Matemática este é já o 11º Encontro dedicado à Matemática no primeiros anos. Este ano, além das preocupações relacionadas com a profissionalidade e intervenção comunitária, o Novo Programa de Matemática do Ensino Básico e os programas de formação a decorrer no 1º Ciclo, são as questões relacionadas com a aprendizagem da Geometria e a visualização, a comunicação matemática, a aquisição do sentido de número e a iniciação ao cálculo, os processos matemáticos usados pelos alunos, a sua optimização na resolução de problemas e a transversalidade dos saberes e das aquisições que dão forma e conteúdo a dois dias de trabalho onde se vai procurar encontrar mais e melhores caminhos para uma aprendizagem significativa dos alunos.