26 de julho de 2007

Pais e mães a dobrar

Reformados ou a trabalhar muitos avós são um apoio fundamental na vida dos filhos e netos. Além do mimo e carinho os avós são um poço de conhecimento e experiências.


“É um cavalo bravo que foi amansado pelo filho para o neto poder montar”. É assim, desta maneira humorística, que Fernando Ribeiro Castro, da Associação Portuguesa de Famílias Numerosas e já avô de nove netos, define os avós. Uma imagem que reflecte uma maior disponibilidade e paciência dos avós para com os netos, sendo que muitos assumem fazer agora com os mais pequenos aquilo que não faziam com os filhos.

E não se pense que pelo facto de as pessoas terem filhos cada vez mais tarde os avós estejam a ficar mais velhos. Muito pelo contrário. Porque a esperança de vida é maior - 81 anos para as mulheres, 74 para os homens, segundo números de 2004 -, os avós modernos são cada vez mais novos - ou cada vez menos velhos – e tendem a ser mais activos e mais autónomos.

“Como trabalham e vivem até mais tarde, mantêm-se activos e de boa saúde durante muitos anos”, explica Daniel Sampaio. O psiquiatra sublinha que hoje em dia os avós são fundamentais. A razão é simples. “Como em Portugal se apoiam muito pouco os pais, cabe aos avós essa ajuda decisiva”, justifica.

Uma ajuda que muitas vezes vai muito além da simples “guarda” dos petizes. Os avós asseguram outras funções e substituem os pais em idas a médicos, reuniões escolares, actividades extra-escolares... Na ausência dos progenitores são eles que brincam, passeiam e ensinam os mais novos, assumindo um papel de socialização das crianças e um complemento essencial na sua educação e equilíbrio emocional, transmitindo-lhes referências, segurança e afectividade.

“Os avós são os historiadores da família, trazem o passado que ajuda a reestruturar o futuro. Sem referências, não se formam as identidades nem se constróem valores. Os avós são, cada vez mais, o garante de tudo isso”, afirma Daniel Sampaio.

Fernando Ribeiro Castro, da APFN, também defende que os avós são um factor de estabilidade na família e responsáveis por uma transmissão de conhecimentos e velhas regras que vão sendo passadas por provérbios, fábulas ou histórias. Por isso mesmo, garante que o contacto de gerações é fundamental. “Perdeu-se bastante há coisa de 20 anos devido aos movimentos migratórios mas agora está-se a recuperar”. E ainda bem. “Estando longe, os pais não se apercebem dos problemas dos filhos, às vezes é necessário uma palavra ou mesmo dinheiro e essa proximidade com os pais é importante”, explica Fernando Ribeiro Castro.

“Conselheiros para os filhos” e “um apoio para os netos” os avós têm “uma seriedade que deriva da experiência de vida e da idade”. Por isso mesmo o responsável da APFN não tem dúvidas de que os pais só deixam de ser pais quando morrem. “Enquanto avós vivemos muitos problemas dos nossos filhos. É importante deixá-los errar mesmo sabendo que depois acaba por sobrar para nós”, explica. Mas é assim que se cresce, e se aprende, e se ganha a tal experiência de vida que estes avós já têm.

Fernando Ribeiro Castro já tem 9 netos. Um trabalho árduo? “É diferente. É girissimo. Há um clima e uma experiência de entreajuda entre todos. Cria-se uma comunidade de apoio, laços de família fortes com histórias comuns e um grau de confiança”, garante.

E é esta confiança nos avós – sejam as famílias mais ou menos numerosas - bem como factores de segurança e bem estar da criança, que faz com que em Portugal se recorra frequentemente a estes familiares para tomar conta dos filhos. A incompatibilidade entre os horários profissionais dos pais e os horários das escolas, jardins de infância e creches ou mesmo a insuficiência de instituições publicas assim o “obriga”.

E para os avós tomar conta dos netos diariamente ou num fim-de-semana é muito mais um prazer do que uma obrigação. E tudo se arranja. Mesmo quando a um fim-de-semana já planeado com os filhos mais novos se juntam mais 5 netos. Fernando Ribeiro Castro tem a justificação: “A alegria deles não se paga e compensa tudo”.

A criação do Dia Nacional dos Avós foi aprovada na Assembleia da República a 22 de Maio de 2003 por iniciativa da deputada social-democrata Ana Manso. A data assinala-se todos os anos a 26 de Julho, dia de Santa Ana e de São Joaquim que, como foram pais de Maria e avós de Jesus Cristo, são os padroeiros dos avós. O Dia dos Avós tem como objectivo destacar e promover o papel dos avós no seio da família e da sociedade.