15 de novembro de 2007

Aprender e partilhar

Curso de formação da Associação para o Planeamento da Família pretende capacitar professores para o desenho e dinamização de projectos na área da Educação para a Saúde.

Destinado a professores coordenadores do Programa de educação para a saúde e outros professores e profissionais envolvidos ou interessados na promoção da saúde em Meio escolar, o curso de formação Desenho de Projectos em educação para a Saúde, promovido pela Associação para o Planeamento familiar (APF) tem como objectivo “ajudar a estruturar projectos que pensem de forma global as questões da saúde e não só em aspectos específicos”, explica Sónia Duarte Lopes, coordenadora da Delegação de Lisboa da APF.

Paula Sousa professora de Português e Francês na Escola Secundária Alfredo Reis Silveira, no Seixal, está ligada desde há 5 anos ao projecto de educação sexual que existe na escola. Actual coordenadora do projecto Educação para a Saúde e uma das formandas, afirma que esta área sempre foi valorizada na sua escola e garante que a Educação para a Saúde “tem cada vez mais importância”. Por isso mesmo, sublinha, “todas as áreas de projecto trabalham obrigatoriamente temas na área de Educação para a Saúde”. São três as áreas prioritárias escolhidas: educação sexual, alimentação e prevenção de consumos. Os trabalhos são desenvolvidos com o Centro de Saúde da área e em parcerias com a Câmara Municipal do Seixal e inúmeras instituições como o Instituto Português de Cardiologia, a Abraço, a Associação de Luta Contra a Sida e a APF. A vinda para esta formação tem uma explicação: “procurar ideias para desenvolver outras actividades e partilhar experiências”.

E esta partilha é uma constante. Entre as formandas - professoras, assistentes sociais, psicólogas - contam-se histórias, partilham-se projectos e conhecimentos, esclarecem-se dúvidas. Aprende-se. Por aqui descobre-se quando se deve ou não usar o medo na educação para a saúde, que a proximidade geográfica dos problemas garante uma maior atenção, que o humor é uma ferramenta importante para tirar o “ar soturno e chato” que muitas vezes se tem quando se fala em saúde e descobrem-se ideias e ferramentas para bordar os diferentes assuntos nesta área. Um exemplo é a apresentação de um conjunto de fotografias, ou parte delas, que reflectem a degradação de um toxicodependente e, a partir daí, pedir aos alunos para contarem a história daquela pessoa ou escreverem o que poderiam fazer para evitar aquela situação. Cartões com pequenas histórias e questões que nos conduzem num jogo onde a reflexão do grupo sobre as decisões a tomar são mais importantes que o resultado final são outra hipótese que os professores podem adaptar para abordarem temas como o álcool, a alimentação, a droga ou o sexo. O importante, percebe-se na formação, é descobrir como comunicar estes assuntos de forma mais atractiva para transmitir informação e captar a atenção dos alunos sem que estes achem que “é uma seca”.

Sobre os projectos na Educação para a Saúde António Manuel Marques, especialista na área e um dos monitores nesta formação, esclarece que é importante manter a coerência e que os temas se devem interligar entre si . Apesar de existir uma pressão institucional para serem apresentadas muitos resultados o monitor garante que é preferível três ou quatro projectos bem feitos. Em relação aos resultados António Manuel Marques deixa, contudo, um alerta. “É natural não haver frutos imediatos. É difícil mudar comportamentos”.

Mas esta não é a única dificuldade. Apesar da “vontade e carolice dos professores que fazem com que as coisas vão funcionando”, Paula Sousa reconhece que é complicado trabalhar porque os cortes orçamentais se reflectem em menos recursos e menos meios. Exemplo disso é o gabinete de atendimento a adolescentes que existe na escola e que era muito procurado pelos alunos mas que neste momento “está parado porque não há recursos para pôr o gabinete a funcionar”. Para colmatar esta falha, escola e professores procuram criar algumas acções para os alunos receberem informação e esclarecerem dúvidas e, ao mesmo tempo, encaminham-nos para o Centro de Saúde onde há uma consulta semanal para adolescentes. “Mas eles não vão lá por vergonha ou porque tem medo de encontrar alguém que os conhece”, desabafa a docente.

A participação e interacção com os pais também é importante mas não é fácil. Por isso mesmo, numa tentativa de estimular o diálogo com os pais e transmitir conhecimentos na área da saúde a Escola Secundária Alfredo Reis Silveira já criou uma estratégia. Em cada tema que tratam os alunos levam agora algumas questões a que os pais têm de responder e, estimulados pelos filhos, lêem os folhetos, fazem pesquisa, procuram informação e dialogam.

Por tudo isto, Paula Sousa nem hesita em afirmar que “falta fazer muitas coisas nesta área”. São precisos mais recursos humanos e físicos. “Há escolas que lutam com falta de espaço para poderem formar um gabinete para poderem receber os alunos”, argumenta. Além disso, diz, são precisos técnicos. “O Ministério tem de perceber que é preciso que as escolas tenham recursos. A maior parte dos professores não tem formação nesta área. Não somos técnicos”, argumenta.

Entre as formandas a opinião parece ser unânime. “Um espaço de atendimento para jovens é importante para acompanhar e encaminhar os adolescentes”. Eles procuram conselhos e é necessário haver alguém disponível para os ouvir, capaz de dar informação relacionada com o problema e encaminhá-los para o Centro de Saúde, para especialistas ou associações. “O atendimento é importante e complexo. Para os professores no atendimento é importante ter alguém na retaguarda que dê apoio e com quem possam esclarecer dúvidas e encaminhar os alunos”, conclui o monitor.

Depois de passar pelas delegações do Algarve e do Alentejo esta formação está agora em Lisboa e até Dezembro passará ainda por São Mamede de Infesta e Coimbra. A APF é uma organização não governamental, com o estatuto de Instituição Particular de Solidariedade Social, criada em 1967, tem desenvolvido desde 1984 uma actividade alargada de apoio às escolas e professores proporcionando-lhes competências para que possam desenvolver junto dos alunos, um trabalho estruturado e continuo de Educação Sexual nas escolas.

Mais informações:
www.apf.pt

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